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terça-feira, 6 de julho de 2010

Vida em Cristo : Deixar É Amar‏

de Max Lucado

"Mulher, eis aí o teu filho." - João 19.26

O evangelho está cheio de desafios retóricos que provam a nossa fé e
resistência contra a natureza humana.

"Mais bem-aventurado é dar que receber." 1

"Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; quem perder a vida
por minha causa, esse a salvará." 2

"Não há profeta sem honra senão na sua terra e na sua casa.”3

Mas nenhuma declaração é mais difícil de entender ou amedrontadora do
que a de Mateus 19.29: "E todo aquele que tiver deixado casas, ou
irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe (ou mulher), ou filhos, ou campos,
por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais, e herdará a vida
eterna."

A parte sobre deixar casas e propriedades posso compreender. É a
outra parte que me faz estremecer. A parte sobre deixar pai e mãe,
dizer adeus aos irmãos e irmãs, dar um beijo de despedida num filho
ou filha. É fácil comparar o discipulado com a pobreza ou a desgraça
pública, mas deixar minha família? Por que devo estar disposto a
deixar meus entes queridos? Pode o sacrifício ficar ainda mais
sacrificial do que isso?"

"Mulher, eis aí o teu filho."

Maria está mais velha agora. O cabelo nas têmporas ficou grisalho. As
rugas substituiram sua pele jovem. Tem as mãos calosas. Ela criou
vários filhos e agora contempla a crucificação do primogênito.

Ficamos pensando quais as lembranças que lhe passam pela mente
enquanto testemunha a tortura dele. A longa viagem para Belém,
talvez. Uma caminha de bebê feita de palha. Fugitivos no Egito. Em
casa em Nazaré. Pânico em Jerusalém. "Pensei que estava em sua
companhia!" Lições de carpintaria. Riso à mesa do jantar.

E aquela manhã que Jesus chegou cedo da oficina, seus olhos mais
firmes, sua voz mais direta. Ele ouvira as notícias. "João está
pregando no deserto." Seu filho tirou o avental, limpou as mãos e com
um último olhar despediu-se da mãe. Ambos sabiam que nada mais seria
igual de novo. Naquela último olhar eles compartilharam um segredo,
cuja extensão era demasiado penosa para ser repetida em voz alta.

Maria aprendeu naquele dia que o sofrimento vem com a despedida. A
partir daquele momento teria de amar o filho à distância; na
periferia da multidão, do lado de fora de uma casa cheia, na praia do
mar. Talvez ela até estivesse lá quando foi feita a promessa
enigmática: "E todo aquele que tiver deixado... mãe... por causa do
meu nome."

Maria não foi a primeira a ser chamada para despedir-se de seus entes
queridos por causa do reino. José foi chamado para ser órfão no
Egito. Jonas para ser um estrangeiro em Nínive. Ana levou seu
primogênito para servir no templo. Daniel foi enviado de Jerusalém
para a Babilônia. Neemias de Susã para Jerusalém. Abraão recebeu
ordem para sacrificar seu próprio filho. Paulo teve de despedir-se da
sua herança. A Bíblia está unida por trilhas de adeuses e manchada
por lágrimas de despedida.

De fato, parece que adeus é uma palavra que prevalece no vocabulário
cristão. Os missionários a conhecem muito bem. Os que os enviam
também a conhecem de sobra. O médico que deixa a cidade para
trabalhar no hospital na selva já pronunciou essa palavra. O mesmo
acontece com o tradutor da Bíblia que mora longe de casa. Os que
alimentam os famintos, os que ensinam os perdidos, os que ajudam os
pobres, todos eles conhecem o termo "adeus".

Aeroportos. Bagagem. Abraços. Luzes de ré sumindo na distância. "Diga
até logo para a vovó." Lágrimas. Estações rodoviárias. Cais
marítimos. "Adeus, papai." Gargantas contraídas. Balcões de
passagens. Olhos molhados. "Escreva!"

Pergunta: Que tipo de Deus colocaria as pessoas em tal agonia? Que
tipo de Deus lhes daria famílias e depois pediria que as deixasse?
Que tipo de Deus lhes daria amigos e depois pediria que lhes dissesse
adeus?

Resposta: Um Deus que sabe que o amor mais profundo não é construído
sobre a paixão e o romance, mas sobre uma missão e um sacrifício
comuns.

Resposta: Um Deus que sabe que somos apenas peregrinos e que a
eternidade está bem perto e que qualquer "Adeus" é na verdade um "Te
vejo amanhã".

Resposta: Um Deus que também fez isso. "Mulher, eis aí o teu filho."


João abraçou Maria um pouco mais apertado. Jesus estava pedindo que
fosse o filho que uma mãe precisa e que de certa forma ele não fora.

Jesus olhou para Maria. Sua dor tinha uma origem muito mais profunda
que os pregos e espinhos. Em seu olhar silencioso eles trocaram de
novo um segredo e ele disse adeus.

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