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quinta-feira, 21 de abril de 2011

Pergunta Para a Beira do Desfiladeiro

Seção Especial A PÁSCOA
A Paixão, O Padecer e A Promessa
Cinco mensagens exclusivas de Max Lucado
para a Páscoa, confira no final da mensagem o link!  



de Max Lucado

"Como passou a noite?" perguntou a enfermeira.
Os olhos cansados do jovem responderam a pergunta antes que seus lábios o fizessem. Ela fora longa e difícil. As vigílias sempre são. Mas ainda mais quando passadas com seu próprio pai.

"Ele não acordou."

O filho sentou-se junto ao leito e pegou na mão ossuda que tantas vezes segurara a sua. Ele tinha medo de largá-la por temer que fazendo isso o homem que amava tanto pudesse passar para o outro lado. Ele a segurou a noite inteira enquanto os dois ficavam à beira do desfiladeiro, cientes de que o passo final estava apenas algumas horas à sua frente.

Com palavras pintadas de preto por causa de sua perplexidade, ele resumiu os temores que o haviam acompanhado na escuridão. "Sei que tem de acontecer", disse o filho, olhando para o rosto acinzentado do pai: "s6 não sei a razão,"
O desfiladeiro da morte.

E um lugar desolado. O chão seco está gretado e sem vida. Um sol ardente aquece o vento que ruge sinistramente e atormenta sem piedade. As lágrimas queimam e as palavras saem vagarosamente, à medida que os visitantes do desfiladeiro são forçados a olhar para o barranco. O fundo da rachadura é invisível, o outro lado inacessível. Não se pode deixar de imaginar o que está escondido nas trevas. E você não pode senão querer ir embora.

Você já esteve ali? Já foi chamado para ficar junto à linha fina que separa os vivos dos mortos? Já ficou acordado à noite ouvindo o ruído das máquinas bombeando ar para dentro e para fora dos seus pulmões? Já observou a doença corroendo e atrofiando o corpo de um amigo? Já permaneceu no cemitério muito tempo depois que os outros partiram, olhando incrédulo o caixão que contém o corpo que continha a alma de alguém que não pode acreditar que se foi?

Caso positivo, este desfiladeiro não é então desconhecido para você. Já ouviu o assobio solitário dos ventos. Já ouviu as perguntas penosas "Por quê?" "Com que propósito?" ricochetearem sem resposta pelas paredes do desfiladeiro. Você desprendeu e atirou pedras da beirada, ficando à espera do som delas caírem lá embaixo, o qual nunca chega.

O jovem pai esmagou o cigarro no cinzeiro de plástico. Ele estava sozinho na sala de espera do hospital. Quanto tempo vai levar? Tudo aconteceu tão depressa! Primeiro vieram as notícias do hospital, depois a corrida desesperada para a sala de emergência e a seguir a explicação da enfermeira. "Seu filho foi atropelado por um carro. Ele tem alguns ferimentos graves na cabeça. Está na sala de cirurgia. Os médicos estão fazendo todo o possível"

Outro cigarro. "Meu Deus." As palavras do pai eram quase audíveis. "Ele só tem cinco anos."

O fato de ficar à beira do desfiladeiro coloca toda a nossa vida em perspectiva. O que importa e o que não importa é facilmente distinguível. Na beirada do desfiladeiro ninguém se preocupa com salários ou posições. Ninguém pergunta que carro você dirige ou em que bairro você mora. A medida que os humanos que envelhecem ficam junto a esse abismo eterno, todos os jogos e disfarces da vida parecem tristemente tolos.
Tudo aconteceu num instante terrível.

"Onde está a nave?" gritou um engenheiro espacial no Cabo Canaveral.
"Oh, meu Deus!" exclamou um professor que apreciava o espetáculo. "Não permita que aconteça o que eu penso que acabou de acontecer"

A confusão e o horror tomaram conta da nação enquanto nos achávamos à beira do desfiladeiro observando sete de nossos melhores astronautas se desintegrarem diante de nossos olhos quando a nave explodiu numa bola de fogo branca e alaranjada.
Mais uma vez fomos lembrados de que mesmo o melhor da nossa tecnologia continuava sendo tremendamente frágil.

É possível que eu esteja me dirigindo a alguém que se ache na beira do desfiladeiro. Alguém que você amava muito foi chamado para o desconhecido e você está só. Só com seus temores e dúvidas. Se for este o caso, por favor leia o restante do livro cuidadosamente. Observe detalhadamente a cena descrita em João 11.

Nesta cena há duas pessoas: Marta e Jesus. E para todos os propósitos práticos eles são as duas únicas pessoas no universo.

As palavras dela estavam cheias de desespero, "Se estiveras aqui..." Ela olha para o Mestre com os olhos cheios de perplexidade. Mostrara-se forte até então, mas agora a dor ressurgira em toda a sua plenitude. Lázaro estava morto. Seu irmão se fora. E o único homem que poderia ter mudado as coisas não aparecera. Não chegara nem mesmo para o funeral. Alguma coisa na morte nos leva a acusar Deus de traição. "Se Deus estivesse aqui não haveria morte!" clamamos.

Veja bem, se Deus é Deus em qualquer parte, ele tem de ser Deus em face da morte. A psicologia popular pode tratar da depressão. A conversa estimulante pode tratar do pessimismo. A prosperidade vence a fome. Mas só Deus pode tratar de nosso dilema final — a morte. E só o Deus da Bíblia teve a ousadia de ficar na beira do desfiladeiro e oferecer uma resposta. Ele tem de ser Deus em face da morte. Caso contrário, não é Deus em lugar algum.

Jesus não ficou zangado com Marta. Talvez fosse a sua paciência que a fez mudar de tom, da frustração para a sinceridade. "Tudo quanto pedirdes a Deus, Deus to concederá".
Jesus fez então uma das afirmações que o colocam no trono ou no asilo: "Teu irmão há de ressurgir".

Marta não compreendeu. (Quem compreenderia?) "Eu sei que ele há de ressurgir na ressurreição, no último dia."

Não era esse o sentido das palavras de Jesus. Não perca a idéia do contexto das próximas palavras. Imagine a cena: Jesus invadiu o campo do inimigo. Ele está em território de Satanás, o Desfiladeiro da Morte. Seu estômago se revolta ao sentir o cheiro terrível de enxofre do ex-anjo, e estremece ao ouvir os gemidos pungentes dos que estão encerrados na prisão. Satanás esteve aqui. Ele violou uma das criações de Deus.
Com o pé plantado sobre a cabeça da serpente, Jesus fala alto o bastante para suas palavras ecoarem pelas paredes do desfiladeiro.

"Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim, não morrerá, eternamente" (Jo 11.25).

É um ponto crítico na história. Abriu-se uma brecha na armadura da morte. As chaves para os portais do inferno foram reclamadas. Os abutres se dispersam e os escorpiões correm velozes quando a Vida confronta a morte — e vence! O vento pára. Uma nuvem esconde o sol e um pássaro chilreia na distância enquanto uma víbora humilhada rasteja entre as rochas e desaparece no solo.

O cenário foi montado para um confronto no Calvário.
Mas Jesus não terminou ainda sua conversa com Marta. Com os olhos fixos nos dela ele faz a maior pergunta encontrada nas Escrituras, uma pergunta dirigida tanto a você e a mim como a Marta. "Crês isto?" Aí está ela. A última linha. A dimensão que separa Jesus de milhares de gurus e profetas que surgiram. A pergunta que leva todo ouvinte responsável à obediência absoluta ou à total rejeição da fé cristã. "Crês isto?"

Deixe que a pergunta entre em seu coração por um momento. Você acredita que um itinerante jovem e sem dinheiro seja maior do que a sua morte? Você acredita sinceramente que a morte nada mais é do que uma rampa de acesso para uma nova estrada?
"Crês isto?"

Jesus não fez essa pergunta como um tópico para discussão nas escolas dominicais. Ela jamais foi proferida para ser tratada enquanto se aproveita o sol que entra pelo vitral ou enquanto ficamos sentados nos bancos confortáveis.
Não. Esta é uma pergunta do desfiladeiro. Uma indagação que só faz sentido durante uma vigília noturna ou no silêncio de salas de espera enfumaçadas. Uma pergunta que faz sentido quando todos os nossos apoios, muletas e fantasias foram removidos. Pois então temos de enfrentar a nós mesmos como realmente somos: seres humanos desnorteados correndo em direção ao desastre. E somos forçados a vê-lo segundo aquilo que afirma ser: nossa única esperança.

Tanto por desespero como por inspiração, Marta disse sim. Ao estudar o rosto bronzeado daquele carpinteiro Galileu, algo lhe disse que provavelmente jamais chegaria mais perto da verdade do que estava então. Ela deu-lhe assim a mão e permitiu que a levasse para longe do desfiladeiro.

"Eu sou a ressurreição e a vida. Crês isto?"

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Capítulo Um: No Cenáculo 
Capítulo Dois: No Jardim 
Capítulo Três: O Julgamento 
Capítulo Quatro: Eis o Cordeiro de Deus 
Capítulo Cinco: O Tesouro do Túmulo 

Capítulo Um: No Cenáculo


de Max Lucado




















Introdução

É o fim da semana mais significante na história do mundo.
Uma semana de momentos finais. A última ceia entre Jesus e os apóstolos. A última vez que Jesus ora no jardim. O confronto conclusivo com os inimigos. E o encontro final com a dor.
E o evento final … uma demonstração ousada de poder divino. O Salvador enterrado libertado para uma sagrada explosão. O que era um sepulcro agora é um símbolo … marcando a maior vitória na batalha mais crucial.
Uma semana de momentos finais. Uma semana de términos. Ou, será que é do começo…?

Quando eu era um menino eu fiz parte de um grupo de jovens na igreja que levavam a ceia aos enfermos e hospitalizados. Nós visitamos aqueles que não podiam freqüentar o culto, mas ainda desejavam orar e participar da ceia. Eu devia ter uns dez ou onze anos de idade quando fomos para um quarto de hospital onde estava um senhor de idade que era muito fraco. Ele estava dormindo, então nós tentamos despertá-lo. Não conseguimos. Nós sacudimos ele, falamos com ele, batemos no ombro dele, mas nós não conseguimos acordá-lo.

Nós não queríamos partir sem realizar nosso dever, mas não sabíamos o que fazer.
Um dos jovens comigo observou que, embora o homem estivesse dormindo, a boca dele estava aberta. Por que não? Nós dissemos. Assim nós oramos pelo pão e colocamos um pedaço na língua dele. Então nós oramos pelo suco de uva e derramamos na boca dele.
Ele nunca acordou.

Como muitos hoje. Para alguns a ceia é um momento sonolento na qual são comidas bolachas e suco é bebido, mas, a alma nunca se mexe. Não era para ser assim.
Era para ser um convite do tipo Eu-não-tô-acreditando-que-é-verdade-me-dê-um-biliscão para sentar à mesa de Deus e ser servido pelo próprio Rei.
Quando você lê a versão de Mateus da Última Ceia, uma verdade incrível aparece. Jesus é a pessoa por trás de tudo. Foi Jesus que selecionou o lugar, designou o tempo, e determinou a ordem da refeição. “O meu tempo está próximo; em tua casa celebrarei a Páscoa com os meus discípulos.”[1]
E na Ceia, Jesus não é o convidado, mas o anfitrião. “E [Jesus] deu aos discípulos.” O assunto dos verbos é a mensagem do evento: “ele tomou…ele abençoou…ele partiu…ele deu….”
E, na Ceia, Jesus não é o servido, e sim, o servo. Foi Jesus que durante a ceia vestiu o traje de um servo e lavou os pés dos discípulos.[2]
Jesus é o mais ativo à mesa. Jesus não é retratado como o que reclina e recebe, mas como o que está de pé e dá.
Ele ainda faz. A Ceia do Senhor é um presente a você. A Ceia do Senhor é um sacramento,[3] não um sacrifício.[4]
Freqüentemente, nós pensamos na Ceia como uma performance, um momento quando nós estamos no palco e Deus é o público. Uma cerimônia na qual nós fazemos o trabalho e ele fica assistindo. Não era para ser assim. Se fosse, Jesus teria tomado um lugar para sentar e relaxar.[5]
Não é isso o que ele fez. Ao invés disso, Ele cumpriu seu papel como um rabino, guiando seus discípulos na comemoração da Páscoa. Ele cumpriu o papel dele como um servo lavando os pés deles. E ele cumpriu o papel dele como um Salvador lhes concedendo perdão de pecados.
Ele tomou conta. Ele ficou no meio do palco. Ele era a pessoa por trás e por dentro do momento. E ele ainda é.
É à mesa do Senhor que você senta. É a Ceia do Senhor que você toma. Da mesma maneira que Jesus rogou pelos discípulos, Jesus implora a Deus por nós.[6] Quando você é chamado à mesa, pode ser que um emissário dá a carta, mas é Jesus que a escreveu.
É um convite Santo. Um sacramento sagrado lhe implorando a deixar os afazeres da vida e entrar no esplendor dele.
Ele lhe encontra à mesa.
E quando o pão estiver partido, é Cristo que parte. Quando o vinho é vertido, é Cristo que verte. E quando seus fardos são carregados, é porque o Rei no avental chegou próximo.
Pense nisso na próxima vez que você vai para a mesa.
Um último pensamento.
O que acontece na terra há pouco é só um aquecimento para o que acontecerá no céu.[7] Assim da próxima vez que o mensageiro lhe chamar à mesa, deixe o que você estiver fazendo e vá. Seja abençoado e seja alimentado e, o mais importante, tenha certeza de ainda estar comendo à mesa dele quando ele nos chamar para nosso lar.


1 Mateus 26:18
2 João 13:5
3 Um sacramento é um presente do Deus para o povo dele.
4 Um sacrifício é um presente das pessoas para Deus.
5 Há momentos sacrificiais durante a Ceia. Nós oferecemos orações, confissões, e ações de graças como sacrifício. Mas eles são sacrifícios de ação de graças por uma salvação já recebida, não sacrifícios de serviço para uma salvação ainda desejada. Nós não dizemos, “Olha o que eu fiz.” Ao contrário, em temor, nós olhamos para Deus e adoramos o que ele fez.
Tanto Lutero como Calvino tiveram convicções fortes relativas à visão certa da Ceia do Senhor.
“Eles (os líderes religiosos) fizeram do sacramento e testamento de Deus, que deveriam ser recebidos por um bom convidado, parecerem com uma boa ação realizada por eles mesmos.” (Martin Lutero, Obras de Lutero, Edição americana, 36:49)
“Ele (Jesus) chama os discípulos a tomarem: Ele então é o único que oferece. Quando os padres fingem que eles oferecem o Cristo na Ceia, eles partem de uma base totalmente diferente. Que grande exemplo de caso virado de cabeça para baixo, que um homem mortal, para merecer o corpo de Cristo, deva agarrar para si o papel de oferecê-lo.” (João Calvino, Uma Harmonia dos Evangelhos, 1:133.) 6 Romanos 8:34
7 Lucas 12:37

Capítulo Dois: No Jardim


de Max Lucado

É quase meia-noite quando eles deixam o cenáculo e descem pelas ruas da cidade. Eles passam pelo Tanque Inferior e passam pelo Portão da Fonte, saindo de Jerusalém. As estradas estão forradas com os fogos e barracas de peregrinos da Páscoa. A maioria está dormindo, fartos com a refeição da noite. Aqueles ainda acordados não dão importância ao bando de homens que caminham pela estrada calcária.

Eles atravessam o vale e sobem o caminho que os levará a Getsêmani. A estrada é íngreme e eles param para descansar. Em algum lugar dentro das muralhas da cidade o décimo segundo apóstolo desce sorrateiramente uma rua. Os pés dele foram lavados pelo homem que ele trairá. O coração dele foi tomado pelo Maligno que ele ouviu. Ele corre para encontrar Caifás.

O encontro final da batalha começou.

Quando Jesus observa a cidade de Jerusalém, ele vê o que os discípulos não podem. É aqui, nos arredores de Jerusalém que a batalha terminará. Ele vê as manobras de Satanás. Ele vê o corre-corre dos demônios. Ele vê o Maligno se preparando para o encontro final. O inimigo olha como um espectro aquela hora. Satanás, o anfitrião do ódio, agarrou o coração de Judas e sussurrou na orelha de Caifás. Satanás, o mestre da morte, abriu as cavernas e se preparou para receber a fonte de luz.

O inferno está se soltando.

A história registra isso como a batalha dos judeus contra Jesus. Não era. Era uma batalha de Deus contra Satanás.

E Jesus sabia disso. Jesus sabia que antes que a guerra acabasse, ele seria levado cativo. Ele sabia que antes da vitória viria a derrota. Ele sabia que antes do trono viria o cálice. Ele sabia que antes da luz de domingo viria a escuridão de sexta-feira.

E ele tem medo.

Ele vira e começa a subida final até o jardim. Quando ele chega à entrada, ele pára e volta os olhos para o círculo de seus amigos. Será a última vez que ele os vê, antes deles o abandonarem. Ele sabe o que farão quando os soldados vierem. Ele sabe que até a traição deles falta poucos minutos.

Mas ele não acusa. Ele não dá carão. Ao invés disso, ele ora. Os últimos momentos dele com os seus discípulos são em oração. E as palavras que ele fala são tão eternas quanto as estrelas que as ouvem.

Imagine, por um momento, você mesmo nesta situação. Sua hora final com um filho prestes a ser enviado para uma terra distante. Seus últimos momentos com seu cônjuge que está morrendo. Uma última visita com seu pai. O que você diz? O que você faz? Que palavras você escolhe?

É notável que Jesus decidiu orar. Ele decidiu orar por nós. “Eu não estou orando somente por eles, mas também por aqueles que ainda vão acreditar em mim por intermédio do ensino deles, para que todos sejam um só. Pai, oro também para que eles estejam em nós, assim como eu estou no senhor e o senhor está em mim. Que eles sejam um para que o mundo acredite que o senhor me enviou.” [1]

Você precisa prestar atenção que nesta oração final Jesus orou por você. Você precisa grifar em vermelho e realçar em amarelo o amor dele: “Eu também estou orando por aqueles que ainda vão acreditar em mim por intermédio do ensino”. Isso é você. Enquanto Jesus entrou no jardim, você estava na oração dele. Quando Jesus olhou ao céu, você estava na visão dele. Quando Jesus sonhou com o dia em que nós estaríamos com ele, ele viu você lá.

A oração final dele era por você. A dor final dele era para você. A paixão final dele era você. Ele vira então, entra no jardim, e convida Pedro, Tiago e João a seguirem. Ele lhes diz que a alma dele “está profundamente triste, até à morte”, e começa a orar.

Ele nunca se sentiu tão só. O que deve ser feito, só ele pode fazer. Nenhum anjo pode fazer. Nenhum anjo tem o poder para quebrar os portões de inferno. Nenhum homem pode fazer. Nenhum homem tem a pureza para destruir o controle do pecado. Nenhuma força na terra pode enfrentar o poder do mal e ganhar, exceto Deus.

“O espírito está disposto, mas a carne é fraca”, Jesus confessa.

Sua humanidade implorou par ser livrado daquilo que sua divindade poderia ver. Jesus, o carpinteiro, roga. Jesus, o homem, olha para dentro do buraco escuro e implora, “será que não pode haver outro jeito?”

Será que ele sabia da resposta antes que ele fez a pergunta? Será que seu coração humano imaginava que seu pai divino havia achado outra maneira? Nós não sabemos. Mas nós sabemos que ele pediu para escapar. Nós sabemos ele implorou por uma saída. Nós sabemos que havia um momento, no qual, se ele pudesse, ele teria se retirado da enrascada toda e ido embora.

Mas ele não pôde. Ele não pôde porque ele viu você. Aí mesmo no meio de um mundo que não é justo. Ele lhe viu num rio de vida que você não pediu. Ele lhe viu traído por aqueles que você ama. Ele lhe viu com um corpo que adoece e um coração que cresce enfraquece.

Ele viu você em seu próprio jardim de árvores tortas e amigos adormecidos. Ele lhe viu fitando o buraco dos seus próprios fracassos e a boca de sua própria sepultura.

Ele viu você em seu próprio Jardim de Getsêmani – e ele não queria que você estivesse só. Ele queria que você soubesse que ele esteve lá também. Ele sabe o que é ser alvo de um complô. Ele sabe o que é ficar confuso. Ele sabe o que é ficar dividido entre dois desejos. Ele sabe o que é sentir o fedor de Satanás. E, talvez mais que tudo, ele sabe o que é implorar a Deus para mudar de plano e ouvir Deus dizer tão suavemente, mas firmemente, “Não”.

Pois foi isso que Deus disse a Jesus. E Jesus aceita a resposta. Em algum momento durante aquela hora de meia-noite um anjo de clemência chega para o corpo cansado do homem no jardim. Quando ele fica de pé, a angústia não mais está nos olhos dele. Seu punho não se apertará mais. O coração dele não lutará mais.

A batalha é ganha. Você pode ter pensado que foi ganha no Gólgota. Não foi. A batalha final foi ganha em Getsêmani. E o sinal da conquista é Jesus em paz entre as oliveiras.

Porque foi no jardim que ele tomou sua decisão. Ele preferiria ir para inferno por você do que ir para o céu sem você.

[1] John 17:20-21 Novo Testamento : Versão Fácil de Ler

Capítulo Três: O Julgamento


de Max Lucado

O julgamento mais famoso da história está a ponto de começar. O juiz é baixinho, mas tem ar de aristocrata, olhar furtivo e roupas finas. Seu cabelo grisalho é bem aparado e seu rosto sem barba. Ele está apreensivo, nervoso por ser empurrado para uma decisão que ele não pode evitar. Dois soldados o conduzem na descida dos degraus de pedra da fortaleza para o pátio maior. Raios de luz solar matutina atravessam o chão de pedra.

Quando ele entra, soldados sírios vestindo togas se apressam para ficar em pé, suas lanças para cima, olhares para a frente. O chão no qual eles estão em pé é um mosaico de pedras marrons, largas e lisas. No chão estão riscados os jogos que os soldados usam para se divertir enquanto esperam a condenação de um prisioneiro.

Mas na presença do procurador, eles não jogam.

Uma cadeira real é colocada numa elevação cinco degraus acima do chão. O magistrado sobe e toma o assento dele. O acusado é trazido para a sala e colocado debaixo dele. Um punhado de líderes religiosos em seus mantos seguem, andam para um lado do quarto, e esperam.

Pilatos olha para a figura solitária.

"Não se parece com um Cristo", ele murmura.

Pés inchados e barrentos. Mãos bronzeadas. Juntas encaroçadas.

Parece mais com um trabalhador braçal do que um professor. O que menos parece é encrenqueiro.

Um olho está preto, inchado e fechado. O outro olha ao chão. Lábio inferior partido e coberto por uma casca. Cabelo ensangüentado, emaranhado à testa. Braços e coxas riscados com vermelho.

“Quer que removamos o manto”? um soldado pergunta.

“Não. Não é necessário”.

É óbvio o que o açoite fez.

“Você é o rei dos judeus”?

Pela primeira vez, Jesus ergue os olhos. Ele não eleva a cabeça, mas ele ergue os olhos. Ele olha para o procurador por baixo da sobrancelha dele. Pilatos está surpreso com o tom na voz de Jesus.

“Essas são suas palavras.”

Antes que Pilatos possa responder, o nó de líderes judeus escarnecem o acusado do lado do tribunal.

“Veja como ele não tem nenhum respeito.”
“Ele incita as pessoas”!

“Ele se diz ser rei”!

Pilatos não os ouve. “Essas são suas palavras.” Nenhuma defesa. Nenhuma explicação. Nenhum pânico. O Galileu está olhando novamente para o chão.

Pilatos olha para os líderes judeus grudados um no outro no canto do tribunal. A insistência deles o chateia. Não bastam as chicotadas. O escárnio é insuficiente. Ciumentos, ele quer dizer na cara deles, mas não faz. Urubus Ciumentos, o bando obstinado inteiro de vocês. Matando seus próprios profetas.

Pilatos quer soltar Jesus. Dê-me apenas uma razão, ele pensa, quase em voz alta. Eu lhe soltarei.

Os pensamentos dele estão interrompidos por um toque no ombro. Um mensageiro se abaixa e sussurra. Estranho. A esposa de Pilatos disse para ele não se envolver no caso. Algo sobre um sonho que ela teve.

Pilatos anda por trás da cadeira dele, senta, e olha fixamente para Jesus. “Até mesmo os deuses estão de seu lado”? ele declara sem explicação.

Ele já sentou nesta cadeira antes. É uma cadeira curul (reservada ao uso das mais altas autoridades): azul de cobalto com pernas grossas e ornamentadas. O assento tradicional de decisão. Sentando nele Pilatos transforma qualquer sala ou rua numa sala de tribunal. É daqui que ele faz as decisões dele.

Quantas vezes ele já sentou aqui? Quantas histórias já ouviu? Quantos argumentos ele já recebeu? Quantos olhos largos o encararam, rogando por clemência, mendigando uma absolvição?

Mas os olhos deste Nazareno estão tranqüilos, silenciosos. Eles não gritam. Eles não correm. Pilatos os examina, procurando ansiedade. . . procurando raiva. Ele não encontra. O que ele descobre o faz mexer novamente.

Ele não está bravo comigo. Ele não tem nenhum medo. . . ele parece entender.

Pilatos está certo na observação dele. Jesus não tem medo. Ele não está bravo. Ele não está à beira de pânico. Porque ele não está surpreso. Jesus conhece a hora dele e a hora chegou.

Pilatos tem motivo para sua curiosidade. Onde estão os seguidores dele, se é que ele é um líder? O que ele pretende fazer, se ele é um Messias? Por que os líderes religiosos estão tão bravos com ele, se ele é um professor?

Pilatos também está correto na pergunta dele. "O que eu deveria fazer com Jesus, chamado o Cristo? "[1]

Talvez você, como Pilatos, está curioso sobre este homem chamado Jesus. Você, como Pilatos, está confuso com suas declarações e mexido com suas paixões. Você ouviu as histórias: Deus descendo as estrelas, encarnando, colocando uma estaca de verdade no globo. Você, como Pilatos, ouviu os outros falarem; agora você gostaria que ele falasse.

O que você faz com um homem que declara ser Deus, mas que odeia religião? O que você faz com um homem que se chama o Salvador, mas que condena sistemas? O que você faz com um homem que conhece o lugar e hora da sua morte, contudo vai lá de qualquer maneira?

A pergunta de Pilatos é sua. "O que farei eu com este homem, Jesus?"

Você tem duas escolhas.

Você pode rejeitá-lo. Isso é uma opção. Você pode, como muitos têm feito, decidir que a idéia de Deus se tornar um carpinteiro é estranha demais - e cair fora.

Ou você pode aceitá-lo. Você pode viajar com ele. Você pode escutar a voz dele entre centenas de outras vozes e segui-lo. Pilatos poderia ter feito isso. Ele ouviu muitas vozes naquele dia - ele poderia ter ouvido a Cristo. Se Pilatos escolhido tivesse escolhido responder ao Messias machucado, a história dele teria sido diferente.

Pilatos vacila. Ele é um cachorrinho ouvindo duas vozes. Ele anda em direção a um, então pára, e anda em direção à outra. Quatro vezes ele tenta livrar o Jesus, e quatro vezes ele balança para o outro lado. Ele tenta dar Barrabás para as pessoas; mas eles querem Jesus. Ele envia Jesus ao poste de chicoteamento; eles querem que ele seja mandado para o Gólgota. Ele declara que não acha nada de errado com este homem; eles acusam Pilatos de violar a lei. Pilatos, temendo quem Jesus poderia ser, tenta libertá-lo uma última vez; os judeus o acusam de trair César.

Tantas vozes. A voz do acordo. A voz da conveniência. A voz da política. A voz da consciência.

E a voz firme e branda de Cristo. "O único poder que você tem sobre mim é o poder dado a você por Deus". [2]

A voz de Jesus é distinta. Sem igual. Ele não bajula, nem implora. Ele só declara o caso.

Pilatos pensou que ele poderia evitar fazer uma escolha. Ele lavou as mãos dele em relação a Jesus. Ele subiu na cerca e se sentou.

Mas, ao não fazer uma escolha, Pilatos fez uma escolha.

Em lugar de pedir a graça de Deus, ele pediu um uivo. Em lugar de convidar Jesus a ficar, ele o despachou. Em lugar de ouvir a voz de Cristo, ele ouviu a voz das pessoas.

Diz a lenda que a esposa de Pilatos se tornou uma crente. Diz a lenda que a casa eterna de Pilatos é um lago numa montanha onde ele vem à superfície diariamente, ainda mergulhando suas mãos na água em busca perdão. Sempre tentando lavar a culpa dele . . . não do mal que ele fez, mas da bondade que ele não fez.

[1] Mateus 27:22
[2] João 18:34
 

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