As pessoas ocidentais por viverem em
contextos de origem cristã não conseguem perceber a importância da
existência de Deus. Então, devemos mostrar as implicações da existência
de Deus para pessoas descrentes. Na Rússia está havendo um crescimento
do cristianismo devido “a prova do contrário”, pois o povo viu que o
marxismo por tantos anos não deu certo.
Filósofos existencialistas como Sartre
analisaram que de fato a inexistência de Deus torna a vida sem sentido.
Apesar disso não ser uma prova em favor da existência de Deus, isso
mostra a importância da pergunta. Ninguém que conhece as implicações do
ateísmo pode ignorar a pergunta “que diferença faz se Deus existe”, pois
sem Deus a vida humana é absurda: a vida não tem sentido, valor ou propósitos superiores e definitivos.
- Sentido: significado (porque algo importa)
- Valor: bem ou mal (certo ou errado)
- Propósito: alvo (razão de algo existir)
Minha defesa é que se Deus não existe,
então tais coisas não existem, além de em nossas próprias cabeças. Não
estou dizendo que ateus são imorais ou não tem alvos, mas que segundo o
ateísmo todas as coisas são somente ilusões subjetivas.
Consideremos a questão da imortalidade.
Se Deus não existir tanto o homem quanto o universo estão fadados à
morte, ao “não ser”. Conforme diz o filósofo existencialista
Jean-Paul Sartre: “Uma vez perdida a eternidade, não faz muita diferença
se isso demorar muitas horas ou muitos anos”. A consequência disso é
que a vida se torna absurda:
1) Sem sentido
final: se toda pessoa deixa de existir quando morre, qual a diferença
final faz nossa vida. Certamente, podemos ter influência relativa, mas
nenhuma importância absoluta. Em última análise, não faz diferença e a
humanidade não tem nenhuma diferença de um bando de mosquitos. Mas mesmo
tendo imortalidade, não é só disso que o homem precisa para ter
sentido. O homem precisa de imortalidade e de Deus e se Deus não existe,
o homem não tem nenhum dos dois.
2) Sem valor: sem
imortalidade e se tanto o bom quanto o mal tem o mesmo fim, então não
existe razão para sermos morais. “Não pode haver virtude sem
imortalidade” (Dostoievski). Dizer que a moralidade flui de interesses
comuns (uma mão lava outra) é uma resposta simplista que ignora que os
interesses de algumas pessoas vão diretamente contra o de outras. Sem
imortalidade não há nenhum razão objetiva para moralidade. E se Deus não
existe, não há um padrão objetivo de moralidade, tornando-se só uma
construção do gosto pessoal, da evolução ou da sociedade.
3) Sem propósito: se
tudo está fadado à morte, então não há nenhum propósito na vida ou no
universo. Se Deus não existe, a vaidade descrita em Eclesiastes é
verdade: “Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também
sucede aos animais, e lhes sucede a mesma coisa; como morre um, assim
morre o outro; e todos têm o mesmo fôlego, e a vantagem dos homens sobre
os animais não é nenhuma, porque todos são vaidade” (Eclesiastes 3:19).
Se a vida acaba com a morte não temos um propósito final com a vida. E,
além disso, mesmo com a imortalidade, mas sem Deus, o homem continuaria
a sendo um mero acidente cósmico, um produto casual de matéria, tempo e
chance, sem razão nenhuma de existência. Se Deus não existe você não
passa de um aborto da natureza, lançados sem propósitos para viverem uma
vida sem propósito.
Se Deus não existe, então tudo o que
temos é o desespero. Como Schaeffer diz: “Se Deus está morto, então o
homem também o está”. O filósofo ateu Bertrand Russell, por exemplo,
sugeriu que devemos construir nossas vidas “sob o firme fundamento
do desespero incessante”. A vida consistente com o ateísmo é uma vida
infeliz. Toda felicidade de um ateu é uma inconsistência. Nietzsche,
filósofo existencialismo, em uma história previu as consequências do
ateísmo:
Não ouviram
falar daquele homem louco que em plena manhã acendeu uma lanterna e
correu ao mercado, e pôs-se a gritar incessantemente: “Procuro Deus!
Procuro Deus!”? – E como lá se encontrassem muitos daqueles que não
criam em Deus, ele despertou com isso uma grande gargalhada. Então ele
está perdido? Perguntou um deles. Ele se perdeu como uma criança? Disse
um outro. Está se escondendo? Ele tem medo de nós? Embarcou num navio?
Emigrou? – gritavam e riam uns para os outros. O homem louco se lançou
para o meio deles e trespassou-os com seu olhar. “Para onde foi Deus?”,
gritou ele, “já lhes direi! Nós os matamos – vocês e eu. Somos todos
seus assassinos! Mas como fizemos isso? Como conseguimos beber
inteiramente o mar? Quem nos deu a esponja para apagar o horizonte? Que
fizemos nós ao desatar a terra do seu sol? Para onde se move ela agora?
Para onde nos movemos nós? Para longe de todos os sóis? Não caímos
continuamente? Para trás, para os lados, para a frente, em todas as
direções? Existem ainda ‘em cima’ e ‘embaixo’? Não vagamos como que
através de um nada infinito? Não sentimos na pele o sopro do vácuo? Não
se tornou ele mais frio? Não anoitece eternamente? Não temos que acender
lanternas de manhã? Não ouvimos o barulho dos coveiros a enterrar Deus?
Não sentimos o cheiro da putrefação divina? – também os deuses
apodrecem! Deus está morto! Deus continua morto! E nós o matamos! Como
nos consolar, a nós, assassinos entre os assassinos? O mais forte e
sagrado que o mundo até então possuíra sangrou inteiro sob os nossos
punhais – quem nos limpará esse sangue? Com que água poderíamos nos
lavar? Que ritos expiatórios, que jogos sagrados teremos de inventar? A
grandeza desse ato não é demasiado grande para nós? Não deveríamos nós
mesmos nos tornar deuses, para ao menos parecer dignos dele? Nunca houve
ato maior – e quem vier depois de nós pertencerá , por causa desse ato,
a uma história mais elevada que toda a história até então!” Nesse
momento silenciou o homem louco, e novamente olhou para seus ouvintes:
também eles ficaram em silêncio, olhando espantados para ele. “Eu venho
cedo demais”, disse então, “não é ainda meu tempo. Esse acontecimento
enorme está a caminho, ainda anda: não chegou ainda aos ouvidos dos
homens. O corisco e o trovão precisam de tempo, a luz das estrelas
precisa de tempo, os atos, mesmo depois de feitos, precisam de tempo
para serem vistos e ouvidos. Esse ato ainda lhes é mais distante que a
mais longínqua constelação – e no entanto eles cometeram! – Conta-se
também no mesmo dia o homem louco irrompeu em várias igrejas , e em cada
uma entoou o seu Réquiem aeternaum deo. Levado para fora e interrogado,
limitava-se a responder: “O que são ainda essas igrejas, se não os
mausoléus e túmulos de Deus?”. (Nietzsche, A Gaia ciência, fragmento
125)
A cosmovisão cristã fornece tanto a
existência de Deus, quanto a imortalidade, necessárias para uma vida
significativa e objetivamente feliz. Então, se só tivéssemos isso,
parece muito mais razoável escolher o cristianismo. Conforme a aposta de
Pascal: “quem apostar na existência de Deus, se ganhar, é evidente que
tudo ganha, mas caso perca, nada perde. Trata-se de um jogo em que se
arrisca o finito para ganhar o infinito”.
Você consegue ver agora a importância da pergunta “Que diferença faz se Deus existe?”? Considere-a atentamente.