Franklin Ferreira
Gostaria de usar o texto de Jeremias
1.4-19 para tratar de três temas vitais ao ministério cristão de ensino:
a vocação, a pregação e seu conteúdo, e a coragem necessária para
permanecer firme. Na verdade, gostaria de usar o texto de Jeremias como
um texto de formação, que entrelace nossas vocações de ensino à vocação
de Jeremias, que nos ajude a recuperar o senso de chamado para pregar a
mensagem de Deus às nações. Antes de continuar, fazem-se necessárias
algumas palavras introdutórias. Jeremias, que significa "aquele que
exalta o Senhor", começou seu ministério no reinado de Josias, que
iniciou uma reforma e renovação da aliança, de curta duração. Ele
pertencia a uma família de sacerdotes e recebeu seu chamado quando tinha
18 anos, na segunda década do século sétimo a.C., na pequena cidade de
Anatote, a cinco quilômetros de Jerusalém. Na verdade, Jeremias viveu em
meio a um turbulento momento político na história da região: a Assíria
entrara em declínio como império, o Egito tentava recuperar sua
influência, e a Babilônia era o poder em ascensão no leste. Pouco
depois, Josias foi morto em Megido e, em rápida sucessão, três de seus
filhos, Joacaz, Jeoaquim e Zedequias, e um neto, Joaquim, sucederam-no
no trono. Por não temerem a Deus, esses reis conduziram o povo da
aliança aos eventos mais devastadores da história de Judá: a invasão
babilônica, a destruição do templo e o exílio no estrangeiro.
Nós
hoje vivemos numa encruzilhada da história. A igreja tem crescido
globalmente. Aqui no Brasil há muitos pastores devotos, crentes sérios,
igrejas saudáveis, sinais da obra do Espírito Santo. Ao mesmo tempo, há
superficialidade e infidelidade bíblica, traição ministerial, divisões,
idolatria por crescimento de igreja a qualquer custo. Na esfera pública
temos governos populistas, corrupção, pessoas morrendo em portas de
hospitais, violência crescendo assustadoramente e impunidade ampla,
geral e irrestrita. Há preocupantes sinais de ameaças à liberdade de
culto e de expressão. Diante desse quadro, (1) qual deve ser a imagem
cultivada por aqueles chamados a obedecer à ordem de pregar a palavra de
Deus? (2) Qual deve ser o conteúdo de tal mensagem? (3) Como aqueles
chamados a pregar essa soberana Palavra devem se portar?
1. Vocação (4-8)
Vamos
nos deter um pouco nos versículos 4-7: O relato começa com a afirmação
"a mim me veio, pois, a palavra do Senhor" (Jr 1.4). Essas palavras ou
expressões equivalentes ocorrem outras vezes no livro (Jr 7.1; 11.1;
14.1; 16.1; 18.1). A palavra way'hi ("continuou a vir") sugere que este
chamado veio não de forma súbita, mas de forma persistente. "Antes que
eu te formasse": estas primeiras palavras do Senhor a Jeremias revelam
que foi iniciativa de Deus o fato de ele ter sido escolhido para ser
profeta. O nome de Deus domina a cena: nessa pequena passagem o nome do
Senhor é citado 12 vezes! Ele o predestinou para anunciar a mensagem, e
antes mesmo de seu nascimento, Jeremias foi consagrado ("separado",
"santificado") por Deus para essa tarefa (Jr 1.5; cf. Gl 1.15). Desde a
concepção até a consagração, Deus tinha preparado cada etapa do
processo, conhecendo todas as necessidades e sabendo como supri-las. Em
outras palavras, Jeremias recebeu o caráter e a personalidade
necessários para a obra profética. "E te constituí": significa "dei",
isto é, antes mesmo de Jeremias nascer ele foi dado. Essa é a maneira de
Deus agir. Ele fez isso com seu próprio Filho, Jesus Cristo (Jo 3.16).
Deus o ofereceu às nações. Deus continua enviando aqueles que ele chama a
pregar às nações, em obediência ao chamado e em imitação a seu Filho
(1Co 11.1).
Por outro lado, a reação de Jeremias mostra que ele
não era voluntário (Jr 1.6). Ele menciona sua idade: "Eis que não sei
falar, porque não passo de uma criança". Na verdade, ele não queria
dizer que era uma "criança", mas que ainda não chegara aos trinta anos,
que era o tempo quando os levitas iniciavam oficialmente seu ministério,
sendo, portanto, muito jovem para atender o chamado. Mas Deus responde a
objeção: "Não digas: Não passo de uma criança" (Jr 1.7). A compreensão
de que ele tinha sido escolhido como instrumento da revelação de Deus
para uma geração endurecida forneceu a convicção de que sua missão
provinha de Deus, e levou-o a proclamar a palavra do Senhor a uma nação
teimosa e rebelde. E ele recebeu forças da comunhão constante com Deus
em oração (cf. Jr 12-20, as cinco "confissões" de Jeremias). "Porque a
todos a quem eu te enviar irás; e tudo quanto eu te mandar falarás":
Quanto mais próximo do exílio, o cumprimento da profecia, mais sua
timidez inicial é substituída por coragem, o que mostra o quanto ele
amadureceu em sua vocação.
Como acontece com Jeremias no
versículo 8, os servos de Deus receberam muitas vezes a ordem "não
temas", como Abraão (Gn 15.1), Moisés (Nm 21.34; Dt 3.2), Daniel (Dn
10.12, 19), Maria (Lc 1.30), Simão (Lc 5.10) e Paulo (At 27.24). Diante
do medo, uma emoção terrível e paralisante, Deus assegura que sustentará
seu servo. Jeremias não estaria livre de oposição e até de perigo
físico, porém cumpriria seu ministério em todas as dificuldades, porque
Deus estaria com ele para fortalecê-lo. Portanto, Jeremias submeteu-se à
sua vocação. E, mesmo sem sair de Jerusalém, ele seria um profeta às
nações – a mensagem de Deus ecoaria por Egito, Filistia, Moabe, Amom,
Edom, Damasco, Quedar, Hazor, Elão e Babilônia (Jr 46-51). Talvez, como
Jeremias, nunca viajemos para fora de nosso país para anunciar a
mensagem de Deus. Mas, ainda assim, podemos ser instrumentos para levar a
Palavra de Deus às nações.
Parece que o estilo de vida dos
homens que exercem hoje a vocação profética no Brasil está em ruínas.
Esta vocação proclamadora foi substituída por estratégias comandadas por
burocratas religiosos munidos de planos de negócios. Pensa-se hoje no
pastor como alguém "que faz as coisas" ou que "faz as coisas
acontecerem". Pastores construtores de templos. Pastores
administradores. Pastores executivos. Pastores seniores. Essa definição
se aplica aos modelos básicos de liderança em nossa cultura: políticos,
homens de negócios, celebridades e atletas. Mas nossa vocação precisa
ser modelada por Deus, pelas Escrituras e pela oração. O elemento
central da vocação profética não é de alguém "que faz as coisas", e sim
de alguém colocado na comunidade para estar atento e chamar a atenção ao
que Deus fala em sua Palavra, palavra de juízo e denúncia, mas palavra
de graça, misericórdia e renovação.
Neste sentido, precisamos
relembrar: Deus chama alguns membros da santa comunidade sacerdotal para
pregar o evangelho, as boas novas da livre graça de Deus. Essa vocação é
uma obra interna de Deus, que chama os servos da Palavra. E embora seja
interno, o chamado para o ministério inevitavelmente virá acompanhado
por um testemunho externo. Ou seja, aqueles chamados para a pregação da
Palavra demonstrarão dons e aptidões para o exercício do ministério.
Eles são equipados pelo Espírito Santo para pastorear, evangelizar,
pregar e ensinar – e frutos visíveis serão evidenciados por conta desse
chamado interno. E será confirmado diante da igreja este chamado
interno, por conta dos frutos externos da obra da graça que já aconteceu
interiormente. Portanto, a vocação profética não pode ser reduzida a
mero trabalho. Este pode ser quantificado e avaliado. Pode-se dizer se
este chegou ao fim ou não, assim como se pode ser contratado ou
demitido. Uma vocação não é um trabalho. A vocação profética é sobre a
pregação da Palavra, sobre a administração dos sacramentos, sobre chamar
o povo de Deus a adorar o Pai, Filho e Espírito Santo, é sobre lembrar
semanalmente à comunidade da fé os privilégios e responsabilidades da
aliança.
Karl Barth afirmou que quem não houver sido chamado para
pregar, que não o faça, pois não será pequeno mal que causará se subir
ao púlpito sem haver sido escolhido por Deus para isto. Por outro lado,
se você foi chamado para anunciar a santa Palavra, você só tem um, e um
único oficio: anunciar fielmente "todo o desígnio de Deus" (At 20.27),
portando-se como alguém que pertence exclusivamente ao Senhor.
2. Conteúdo e Pregação (9-16)
Analisando
os versículos 9-10, percebemos que tocando na boca do jovem, Deus
simboliza a comunicação de sua mensagem. Agora o Senhor proclama sua
mensagem às nações tendo Jeremias por arauto. Para transmitir esta
mensagem, Deus usa metáforas baseadas na agricultura e na construção,
constituída por três pares de verbos, os dois primeiros negativos e o
terceiro positivo: o profeta deve arrancar e derribar, destruir e
arruinar para então edificar e plantar (Jr 1.10). Toda a corrupção na
nação deve ser arrancada e derrubada, e somente depois disto é que se
pode edificar e plantar de novo. Portanto, a mensagem do profeta teria
duas funções. Em primeiro lugar, essa mensagem era uma declaração sobre a
maldição da aliança que seria executada em seu devido tempo (Dt
28.1-68). Em segundo lugar, as bênçãos da aliança se tornariam
realidade. Deus quer renovar, reconstruir e restaurar seu povo, mas
antes da renovação é necessária a remoção radical do pecado e da
infidelidade à aliança e eleição. A ruína é inevitável, enquanto a nação
persistir no pecado, mas a palavra de renovação oferece esperança de
restauração. Usando a linguagem do Novo Testamento, Deus tem primeiro de
remover o pecado, antes de o pecador começar a crescer na graça e no
conhecimento de Jesus Cristo.
Jeremias, entretanto, é humano. Ele
reage inicialmente com medo e inadequação. São reveladas então a
Jeremias duas visões inaugurais, descritas nos versículos 11-13. A
primeira é a de "uma vara de amendoeira" (Jr 1.11). Em hebraico, a
palavra "amendoeira" (shaqéd) e o verbo "eu velo sobre" (shoqéd) têm som
semelhante. Há um jogo de palavras aqui que ilustra a prontidão com que
Deus cumpre suas promessas. Sempre que o profeta visse a cada primavera
uma amendoeira em flor, ele seria lembrado de que o Senhor está
observando para assegurar que sejam cumpridas todas as palavras
transmitidas em seu nome (Jr 1.12). A segunda visão tinha um tom mais
sinistro, "uma panela ao fogo" (ou "fervendo"), literalmente uma panela
sobre a qual alguém sopra, e cuja boca se inclina do Norte, indicando
que seu conteúdo se derrama em direção ao sul (Jr 1.13). Essa visão
indica a invasão babilônica, que virá do norte (Jr 20.4).
Percebemos
nos versículos 14-16 que o exército da Babilônia executará o propósito
de Deus de punir a idolatria de Judá e a quebra da aliança do Sinai. O
verbo qtr, "queimar incenso" (Jr 1.16), é usado em outras passagens
significando queimar a gordura dos sacrifícios (cf. 1Sm 2.16; Sl 66.15).
A tensão entre o culto aos ídolos e a adoração exclusiva ao Senhor
chegaram ao clímax. A guerra viria para interromper um modo de vida
inútil, impuro e indolente, obrigando o povo a voltar seus olhos para o
que é essencial e eterno. Mas Jeremias não vai trazer o fim por meio da
espada ou da ação política. Ele é chamado a proclamar a palavra do
Senhor quantas vezes for necessário, custe o que custar, e um alto preço
será exigido dele.
Aqueles chamados ao ofício de anunciar a
Palavra de Deus não são chamados a trocar a mensagem da aliança pelo
discurso político. Nenhuma ideologia é absoluta e nem pode ser
confundida com o evangelho. Sempre que a igreja ou mesmo pastores e
teólogos identificaram determinada ideologia com o reino de Deus ou com a
mensagem bíblica, essa foi não apenas distorcida, mas acabou sendo
perdida. Portanto, a preocupação primeira daqueles chamados a anunciar a
Palavra de Deus não é tanto com a mudança da sociedade civil, mas com a
reforma e renovação da igreja por meio da mensagem de Deus. Aqueles
chamados ao ofício de anunciar a palavra de Deus não são chamados para
lidar com aqueles que ouvem e se submetem à mensagem profética como se
fossem problemas. É fácil reduzir as pessoas a problemas, pois na maior
parte das vezes é fácil solucionar esses problemas. Mas os profetas são
chamados a conduzir as pessoas dos ídolos a Deus, da rebelião para a
aliança, por meio da Palavra, da adoração e da oração. Aqui somos meros
instrumentos nas mãos de Deus. As pessoas não devem ser vistas como
problemas em busca de solução, mas como pecadores que podem ser
renovados à imagem de Deus. Portanto, a vocação é sobre conduzir as
pessoas a Deus, por meio de sua Palavra, em humildade. Trata-se de
permanecer junto ao povo.
A tentação à qual os profetas estão
sujeitos é considerar Deus uma mercadoria, utilizá-lo para legitimar a
idolatria (cf. Jr 23.21-40). Qual é, então, o conteúdo da mensagem
profética? Deve-se conhecer o Senhor (Jr 8.7; 24.7; 31.31-34). Este
conhecimento se dá por meio do Messias, o Renovo Justo, descendente de
Davi, que executa juízo e justiça na terra (Jr 33.14-18), a fonte de
águas vivas (Jr 2.13), o bálsamo de Gileade (Jr 8.22), o Bom Pastor (Jr
23.4), o Renovo Justo (Jr 23.5), o Senhor justiça nossa (Jr 23.6),
aquele que trará a nova aliança (Jr 31.31-34). E este novo conhecimento
redunda em preocupação pelo aflito e necessitado e na prática da justiça
e retidão.
A mensagem profética é o convite para "voltar" (Jr
4.1-2; cf. 9.24; 22.2, 13, 15; 23.5; 33.15). Este termo e seus cognatos
foram usados quase cem vezes neste livro e são o significado literal da
palavra "arrependimento". Implica voltar-se dos próprios caminhos para a
aliança (Jr 6.16), é um chamado à comunidade para um retorno à
"verdade", "juízo" e "justiça". Em suma, o povo é chamado ao
arrependimento e ao conhecimento de Deus por meio do Messias. E o
remédio de Deus para o coração enfermo (Jr 17.9) será gravar sua lei no
coração da nova comunidade (Jr 31.31-34). Portanto, o verdadeiro profeta
é aquele que procura distanciar o povo do mal, enfatizando as
exigências de Deus na aliança (Jr 23.14, 22).
Usando a linguagem
do Novo Testamento, aqueles dentre nós chamados ao santo ministério da
Palavra, devem pregar as realidades grandiosas e magníficas de Deus e do
Espírito Santo, da Escritura e da criação, da cruz de Cristo e da
aliança, da salvação e de uma vida santa, a oração, o batismo, a santa
ceia. E isso deve ser pregado no púlpito, nas salas de aula e na
visitação pastoral, ansiando por vidas moldadas pela Palavra de Deus,
renovada pelo Espírito Santo, de uma humildade disposta ao sacrifício,
que erguem a Deus um louvor santo, sofrendo sem perder o contentamento,
orando sem cessar, perseverando na santidade.
3. Segurança (17-19)
Na
seção composta dos versículos 17-19 podemos ver que o desânimo que o
profeta sentiu ao entender o conteúdo da profecia é combatido por uma
ordem direta: "cinge os lombos" (Jr 1.17), que pode ser traduzida como:
"e você, prepare-se!" A frase é um termo militar hebraico usado para
descrever um soldado vestido e devidamente preparado para tomar sua
espada. Antes mesmo de nascer, ele foi convocado para lutar nessa
batalha. Não lhe foram concedidos alguns anos nos quais pudesse refletir
e decidir em que lado se posicionaria ou mesmo se iria lutar. Ele foi
escolhido. Deus o chamou para ser um guerreiro. Então, ele deve ser fiel
ao anunciar a Palavra de Deus e não deve temer a ninguém. Mais do que
isso, o Senhor incita Jeremias a se preparar para a batalha. Se Jeremias
perder sua coragem, Deus o abandonará por sua falta de fé: "Não te
espantes diante deles, para que eu não te infunda espanto na sua
presença". Devemos entender: há uma verdadeira batalha espiritual sendo
travada. Há maldade, crueldade e infelicidade. Há superstição e
ignorância; brutalidade e dor. Não existe zona neutra no Universo. Cada
centímetro quadrado é área de combate. Deus se levanta contra tudo isso.
Ele está salvando, resgatando, abençoando, provendo, julgando,
renovando: "Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar
vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra,
insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com
toda a longanimidade e doutrina" (2Tm 4.1-2).
Deus, então, faz
uma das promessas mais ricas que ele pode fazer aos seus servos: "Tu,
pois, cinge os lombos, dispõe-te e dize-lhes tudo quanto eu te mandar;
não te espantes diante deles, para que eu não te infunda espanto na sua
presença. Eis que hoje te ponho por cidade fortificada, por coluna de
ferro e por muros de bronze, contra todo o país, contra os reis de Judá,
contra os seus príncipes, contra os seus sacerdotes e contra o seu
povo. Pelejarão contra ti, mas não prevalecerão". Mesmo com todos contra
ele, Deus estará ao seu lado, fazendo-o invencível. A presença de Deus
lhe dá a certeza de que ele será uma fortaleza invencível, firme como
uma "coluna de ferro" e resistente aos ataques como "muros de bronze". E
sua mensagem afetará pessoas de todas as classes sociais em Judá, dos
líderes políticos e sacerdotes ao cidadão comum.
No início do
verão de 1942, uma crente luterana, Sophie Scholl, participou da
produção e distribuição de panfletos de um pequeno movimento de
resistência pacífica chamado Rosa Branca. Ela foi presa, junto com seu
irmão, Hans Scholl, e outro universitário, Christoph Probst, em 18 de
fevereiro de 1943, depois que o reitor da Universidade de Munique os
surpreendeu distribuindo esses panfletos no pátio da universidade. Em 22
de fevereiro de 1943 os três foram julgados em menos de quatro horas,
acusados de alta traição e decapitados no mesmo dia. Suas últimas
palavras foram: "Como podemos esperar que a justiça prevaleça quando são
poucos os que estão dispostos a se doarem individualmente a uma causa
justa? Um dia bonito e ensolarado, e eu tenho de partir, mas o que
importa a minha morte, se através de nós milhares de pessoas forem
despertadas e instadas à ação?" Sophie Scholl foi martirizada com 21
anos. Mesmo tão jovem, ela se opôs ao totalitarismo nazista, por causa
de sua fé, num contexto de repressão, censura e conformismo. Isso é
coragem invencível! Se você foi chamado a anunciar a Palavra, fique
firme! A promessa e a graça de Deus estão com você! Como diz a canção do
grupo Logos:
Meu servo, não temas!
Não temas, pois eu te escolhi!
Sei que é difícil, mas confia em mim!
Confia em mim e então,
Tu verás o meu poder!
Durante
seus quarenta anos de ministério, Jeremias foi invencível. Diversas
vezes passou por intensa agonia, mas não traiu sua vocação. Ele foi
desprezado e perseguido, mas jamais deixou de anunciar a mensagem de
Deus. Ele foi tremendamente pressionado para que fizesse concessões,
desistisse e se escondesse, porém, jamais cedeu. Cada músculo do seu
corpo foi exigido até o limite da fadiga. Mas ele foi corajosamente
"coluna de ferro" e "muros de bronze". Muitos se oporiam, mas Deus
prometeu estar com ele e protegê-lo: "Eu sou contigo, diz o Senhor, para
te livrar" (Jr 1.19).
Conclusão
Jeremias
foi o profeta mais rejeitado e resistido da história israelita. Ele
recebeu a ordem de não se casar ou ter filhos (Jr 16.1-4), uma
experiência incomum de celibato. Experimentou oposição, castigos e
prisões (Jr 11.18-23; 12.6; 18.18; 20.7; 26.9-19; 28.5-17; 37.11-38.28).
Muitas vezes é chamado de o "profeta chorão" (Jr 9.1; 13.17; 14.17).
Quando levado para o Egito, contra a sua vontade, caiu no esquecimento –
de acordo com a tradição, ele morreu naquele país, dez anos depois,
apedrejado por seus compatriotas, que ainda se recusavam a aceitar sua
mensagem. Mas não somos chamados a andar por vista, mas por fé. Jeremias
foi grandemente honrado pelos escritores do Novo Testamento. Sua
profecia é citada 40 vezes, a metade no Apocalipse (cf. 50.8; Ap 18.4;
50.32; Ap 18.8; 51.59s; Ap 18.24s). A mais longa citação do Antigo
Testamento no Novo Testamento é a passagem da "nova aliança" (Jr
31.31-34; cf. Hb 8.8-13). As denúncias de Jeremias contra o povo como
incircunciso de coração e ouvido (Jr 6.10; 9.26) foram repetidas por
Estevão (At 7.51), uma pregação que lhe custou a vida. As lições tiradas
da visita à casa do oleiro (Jr 18.1-10) foram aplicadas por Paulo ao
chamado dos gentios por Deus (Rm 9.20-24). E Jeremias, que foi
considerado o mais humano dos profetas, recebeu a maior honra, ter sido
comparado ao Filho do Homem (Mt 16.14). Que obedeçamos nossa vocação,
preguemos fielmente a mensagem recebida, que finquemos os pés no chão
com coragem, para que em tudo Deus seja glorificado.
"Todavia, o
meu povo trocou a sua Glória por aquilo que é de nenhum proveito.
Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! Ficai estupefatos, diz o
Senhor. Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o
manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não
retêm as águas" (Jr 2.11-13).
"Dai glória ao Senhor, vosso Deus,
antes que ele faça vir as trevas, e antes que tropecem vossos pés nos
montes tenebrosos; antes que, esperando vós luz, ele a mude em sombra de
morte e a reduza à escuridão" (Jr 13.16).
"Não nos rejeites, por
amor do teu nome; não cubras de opróbrio o trono da tua glória;
lembra-te e não anules a tua aliança conosco" (Jr 14.21).
"Ó
Senhor, Esperança de Israel! Todos aqueles que te deixam serão
envergonhados; o nome dos que se apartam de mim será escrito no chão;
porque abandonam o Senhor, a fonte das águas vivas. Cura-me, Senhor, e
serei curado, salva-me, e serei salvo; porque tu és o meu louvor" (Jr
17.13-14).
Bibliografia:
Issiaka Coulibaly, "Jeremias", em Tokunboh Adeyemo (ed. geral), Comentário bíblico africano. São Paulo: Mundo Cristão, 2010.
Karl Barth, Carta aos Romanos. São Paulo: Fonte Editorial, 2009.
F. Cawley, "Jeremias", em F. Davidson (ed.), Novo comentário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, s/d.
J. G. S. S. Thomson, "Jeremias", em J. D. Douglas (ed.), Novo dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995, p. 794-800.
R. K. Harrison, Jeremias e lamentações; introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova & Mundo Cristão, 1989.
Eugene H. Peterson, Memórias de um pastor. São Paulo: Mundo Cristão, 2011.
Eugene H. Peterson, Ânimo; o antídoto bíblico contra o tédio e a mediocridade. São Paulo: Mundo Cristão, 2008.
J.
R. Soza, "Jeremias", em T. Desmond Alexander & Brian S. Rosner,
Novo dicionário de teologia bíblica. São Paulo: Vida, 2009, p. 324-329.
Fonte: Editora Fiel